A Universidade Católica de Pernambuco estará representada em uma reunião histórica do Papa Francisco com estudantes de instituições jesuítas de todas as Américas. O encontro sinodal intitulado Construindo Pontes Norte-Sul será realizado na próxima quinta-feira (24), às 15h (horário de Brasília). O doutorando em Psicologia Clínica e professor do curso de Engenharia da Complexidade, João Elton de Jesus, e a mestranda em Ciências da Religião, Paula Souza, serão os representantes da Unicap.  

Organizado pelo Instituto de Estudos Pastorais, Hank Center for the Catholic Intellectual Heritage e Departamento de Teologia da Universidade Loyola de Chicago em parceria com a Santa Sé, o sínodo será transmitido ao vivo e abordará os principais desafios dos tempos atuais como a migração, pobreza, a crise ambiental e a violência. Os alunos irão apresentar projetos educacionais que estão transformando realidades. De acordo com informações do Vaticano, o Papa Francisco vai enfatizar contribuições de estudantes que são imigrantes ou filhos de imigrantes. 

O clima é de muita expectativa e de ansiedade. Paula conta que já participou de três reuniões com a equipe que está preparando o encontro. “Esse tempo de organização parece bem mais intenso que o encontro propriamente dito”, disse em tom descontraído. Ao todo, nove estudantes brasileiros foram selecionados para o evento, sendo oito de instituições jesuítas e um da Universidade Luterana.   

O objetivo é de que cada país pense num problema que englobe a realidade da migração e que seja apresentado na forma de denúncia. “É a partir dessa dimensão que os estudantes estão sendo convidados a pensar um projeto que melhore essa problemática no território”, explica Paula. Vale destacar que o projeto não é individual e sim desenvolvido em equipe.  

Outro ponto importante é que o foco estabelecido pelo Vaticano não é a migração internacional em si, do tipo de pensar políticas públicas para acolher migrantes. “O foco é pensar projetos que ajudem as pessoas a permanecer (nos locais de origem), que não precisem migrar. O que precisamos fazer para que ninguém deixar o Brasil? O que é um olhar bem diferente daquele que costuma ser pensado”, detalha a mestranda. “A intenção é que as universidades, principalmente as jesuítas, trabalhem em busca de pesquisas, de compreender problemas contemporâneos e buscar soluções para eles”, complementa João Elton ressaltando que a ideia é que o projeto continue mesmo depois do encontro com o Papa.  

Ainda de acordo com Paula, a proposta do Brasil já foi aprovada por uma comissão avaliadora formada por professores e já depositada em uma plataforma específica. Cada país terá três minutos para que um representante de cada equipe leia o texto na língua de origem contendo entre 250 e 280 palavras. “Tudo é milimetricamente qualificado”.

O projeto da equipe do Brasil, intituladoPermane-ser, visa combater a migração interna entre as regiões do país, sugerindo a criação de Centros de Permanência em locais de origem para “alavancar oportunidades por meio de cursos, chances de empreendimento, para que as pessoas não precisem migrar”, explica João Elton que, além de doutorando e professor, é o representante da Unicap na Casa dos Direitos. A iniciativa desenvolvida em parceria com a Cáritas acolheu venezuelanos que vieram para o Recife no final de 2018. João também faz parte do Grupo de Trabalho (GT) Migrantes e atua como coordenador do Voluntariado Universitário da Unicap (VOU!).       

Paula Souza trabalha com a temática há mais de dez anos. O interesse pela questão começou quando ela morava na região do Glicério, Centro da cidade de São Paulo, onde desenvolveu atividades pastorais com haitianos, bolivianos, peruanos e com comunidades de vários países africanos a exemplo de Angola e Congo. Ela faz parte das Irmãs Pias Discípulas do Divino Mestre. Formada em Arquitetura, ela conta que fez o trabalho de conclusão de curso buscando compreender os lugares de “moradia, cortiços e aglomerados urbanos”.  

O tema voltou a ser estudado por Paula no mestrado em Ciências da Religião, agora sob o aspecto da crise de sentido. “A migração mexe com a essência, com a identidade da pessoa que tem mudada a realidade de sentido, uma modificação. A referencialidade se reconstrói num território novo”. 

Sobre ser selecionada para representar a Unicap, Paula Souza disse estar muito honrada e que até ter o nome confirmado teve que guardar segredo por cinco dias. “Quando Dégis (Degislando Nóbrega, Pró-reitor Acadêmico) me fez o convite, eu não contive a emoção. É uma grande responsabilidade representar a Unicap em um evento desse porte. Esse estudo me proporciona essa alegria, de principalmente, enxergar o tema por essa perspectiva de as pessoas não precisarem migrar”. 

Para João Elton, “é um privilégio e uma oportunidade de se encontrar com o líder da Igreja que busca abrir a Igreja para a realidade dos problemas da sociedade. É uma alegria”.

Faje- dois estudantes de Teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) estão entre os brasileiros selecionados para participar do encontro com o Papa: Marina Pizoni e Jerfferson Amorim de Souza. Ele é funcionário do Instituto Humanitas Unicap (IHU).

Em entrevista ao portal de notícias da Faje, Jerfferson falou sobre o tema do sínodo: "ao discutir as causas radicais da migração no continente possamos, como Igreja, assumir a missão de uma evangelização centrada em uma autêntica promoção humana e na libertação integral das pessoas; que, como diz o Papa Francisco, possamos redescobrir a solidariedade não simplesmente como generosidade dos gestos individuais do dia a dia, mas como autêntica justiça social. E, querendo ou não, fica a curiosidade ou o desejo de que o encontro seja apenas o ponto de partida de um diálogo, caminho a ser construído a partir daqui".

A reportagem completa sobre a representação da Faje pode ser conferida aqui.